quatro gramas

A propósito da estapafúrdia ideia de reduzir, para metade, a quantidade de açúcar nos pacotes, relembro um texto que escrevi há oito anos quando entrou em vigor a lei que proibia o fumo em espaços fechados.

prazeres«Recordo, a propósito, um livro de crónicas da autoria do médico Eduardo Barroso, reconhecido cirurgião e sportinguista de alma e coração, intitulado “Prazeres”. Quem olha para a capa do livro, reconhece logo a imagem da marca de charutos cubanos “Cohiba”. Ao longo das crónicas, o autor disserta sobre os prazeres da vida: comer e beber bem, fumar bons charutos, as tertúlias com os amigos, os jogos de futebol do Sporting.

A propósito das proibições e do politicamente correcto, lembro-me duma dessas crónicas, que passo a descrever resumidamente.

Frequentador assíduo do restaurante Gambrinus, numa ocasião, ao entrar para jantar, foram-lhe exigidos os resultados das suas análises clínicas. Só assim poderia aceder ao restaurante. Já lá dentro, consultou a ementa e pediu o seu jantar. Foi-lhe recusado, devido aos valores elevados do colesterol. Fez outro… também não podia ser: os triglicéridos não o permitiam. Enfim, o comensal, que se delicia com o prazer de uma boa refeição, acabou por jantar (se a memória não me atraiçoa) um peixe cozido, sem sal. No final, ao puxar duma cigarrilha, foi-lhe dito que não podia fumar. E café nem vê-lo… apenas um descafeinado. Ordens do novo ministro da saúde, Engenheiro Macário Correia.

Acordou e, felizmente, isto não tinha passado dum pesadelo.

Doze anos depois, o ministro chama-se Correia de Campos e parte do pesadelo já é realidade. Ah!!! Já se fala por aí em reduções dos teores de sal na comida, entre outras ideias estapafúrdias de alguém que não tem mais nada que fazer. Espero que, daqui a doze anos, a admissão a um restaurante não seja baseada nas análises clínicas de cada um.» (daqui)

Pelos sinais que nos vêm sendo dados, neste campo, pelas autoridades nacionais e europeias, caminhamos a passos largos para que o pesadelo descrito por Eduardo Barroso seja uma realidade.

Os problemas de saúde decorrentes, entre outros, do tabagismo, do abuso de açúcar ou de sal na alimentação, devem ser combatidos com informação e com políticas de sensibilização e de prevenção. A uso da repressão e proibição só vai fazer com que, neste caso em particular, quem goste do café com 8 gramas de açúcar passe a usar dois pacotes. A não ser que apliquem coimas ou multas aos comerciantes por disponibilizarem mais que um por cada café servido…