a economia não é a física

física«De física não posso elucidar. A leitura de uns livros de Carl Sagan e uma discussão em que um amigo físico me explicou entusiasmado o que eram os wormholes referidos em Contacto não me habilitam particularmente. Mas no caso dos modelos económicos há que dizer com frontalidade, como os treinadores de futebol: fazer promessas de números macroeconómicos com base em modelos económicos é aldrabice da mais básica que a política portuguesa tem conhecido. É certo que António Costa já veio dizer que não prometeu 207.000 empregos, mas enrolou a verdade de maneira a dar a ideia de que é uma previsão muito segura.

Ora não é. Convém explicar que os modelos económicos servem para pouco mais do que testar teorias económicas (a ver se os modelos teóricos produzem resultados semelhantes aos comportamentos observados na realidade) e fazer previsões que deem alguma informação aos governantes e decisores económicos. Mas qualquer economista minimamente decente sabe que só por acaso as previsões acertam. E a razão é muito simples: na realidade há demasiadas variáveis que influenciam as muitas decisões económicas e é impraticável contemplar todas essas variáveis no modelo económico. Por isso muitas variáveis ficam de fora ou são, como simplificação, colocadas como constantes ou com padrão de alteração previsto – e nada nos garante que não venham a ser essas variáveis (excluídas ou com comportamento afinal errático) a influir mais na decisão dos agentes económicos. Para complicar, há toda a incerteza normal do mundo. Quem sabe como vai evoluir a economia chinesa e qual o seu efeito no resto do mundo? Aposto que convulsões chinesas não constaram das contas do PS, mas certamente que determinarão a realidade. Quem sabe que mais choques aí virão? E, por fim, há a própria natureza dos modelos. Imaginem quão exato pode ser colocar o comportamento da produção de um país numa equação.» (daqui)